«Surpresa. Hoje é dia de pagamento!»
Que querem que vos diga?
Sou uma cortesã e recebo apenas o homem que escolhi, ainda que duvide de mim e dele, mais ainda.
Recebo-o na cama que comprámos... Aquela que absorve os ruídos da noite e isola os amantes de todos os outros. «Ao abrigo da escuridão esta cama não espelha emoções, corpos ou rostos... A noite torna-se livre!»
Minutos antes foram dedicados à excitação do tipo que dispensa o auxílio dos outros. Contei-me um conto que me excita. Contei-o como se tivesse sido proferido da boca que espero ouvir... Contei para que o ouvisse dentro de mim e de dentro de mim brotasse como seiva inspiradora.
_ Entra! - Disse-o em tom imperativo. Pudesse eu suplicar...
Beijei-o, refugiando-me numa realidade que estimula ainda que nunca tenha existido. O meu mundo perfeito interagindo com o aqui e agora. Uma fome deve ser minimizada, ainda que não satisfeita.
Despi-o, despindo-me de todos os sonhos e pretensões de uma carne que lateja com um olhar, uma palavra, uma voz... Não fico trémula... Não sem um grande incentivo que obriga a um esforço que se quer compensado.
«Hoje, é dia de pagamento!»
A minha pele semi-nua excita-o, mas eu sei que não chega para o fim pretendido.
Que querem que vos diga?
Tento que seja memorável e que crie a teia que o mantém suspenso.
«Hoje é dia de surpresa...»
Deixo que me beije, ainda que o beijo ameace erguer os muros que baixei para me tornar um pouco mais acessível... Ah! Iniciativa... A minha deixa, o meu controle de tudo o que o desvia de mim...
Afasto-o e deito-me na cama deixando a cabeça descair sem apoio. Ergueu-se como duvidando das minhas intenções, mas a excitação assalta-o e o pressentimento leva a que se deixe conduzir para mais uma noite em que conto uma história.
«Sopro-a para dentro dele...»
Assim, de lábios abertos, garganta à sua medida, puxo-o para mim e sufoco tudo o que não posso dizer. Concentro-me no arrepio, no seu fechar de olhos, no corpo que deixa mergulhado nos meus lábios.
Os seus gemidos e as minhas mãos nas suas ancas marcaram o ritmo... O seu desejo de mais é superado por tudo o que lhe dou, sem que o peça… Dou sempre mais!
Mal se contém e o prazer estimula a criatividade, tornando-o elástico... Uma mão em mim, outra agarra o seio que leva à boca.
«Surpresa! Gostei da boca que se reveza entre os pontos mais sensíveis.»
O tempo é diluído nos fluidos que trocamos enquanto devoramos os corpos um do outro. Não quero pensar em nada, apenas sentir que afugento a sede que, cada vez maior, estala na garganta com o calor de um deserto.
Meço-lhe o pulsar que grita em ditongos amplamente conhecidos. O seu corpo estremece frenético entre dentes que se desviam e o espaço que o estrangula, entorpecido pelo sangue que me escorre para o rosto...
Empurro-o e ordeno. Deita-se porque quero que o faça. É a minha vontade que controla e a história que conto é à sua medida.
«Tomara eu que sucumbisse ao seu desejo por um desejo meu, maior que tudo o resto.»
Balanço as coxas, cravando as unhas no seu peito. É a satisfação momentânea que procuro e que encontro.
«Hoje, porque gostei, a satisfação será múltipla!»
O meu rosto contraído, os meus seios ruborizados, as minhas faces com uma temperatura estival, incendeiam-no até que se perde em explosões intensas, repetidas, espaçadas... Uma e outra vez...
Ah! Satisfação a minha pelo dom e pelo proveito que hoje retirei, poder incomum que nos proporciona orgasmos múltiplos.
Como uma gata no cio, derreto-me uma vez mais, erguendo os olhos, fitando o rosto que não se importa de perder na contagem do prazer.
«Surpresa! Hoje, ganhei.»
Abandono a posição, solto-me dos braços que mantiveram as nádegas empinadas, enquanto se entregava ao devaneio pela terceira vez. Beija-me e segreda-me ao ouvido a sua surpresa, a sua satisfação... Ouço uma voz repleta de devoção.
Em mim, a sede e a fome ainda me ferem. Beijo-o e segredo ao ouvido:
_ Sai e não voltes de imediato...
Entrego-me ao conto que conto que me liberta e me tem prisioneira.
Humm... Mordo-me para que não me perca no abandono que aspiro... Suspiro.
«Surpresa. Hoje é dia de pagamento!»
Publicado no blog "Olhar Joana" e na PEAPAZ
Submited by
Prosas :
- Inicie sesión para enviar comentarios
- 1598 reads
other contents of Ema Moura
Tema | Título | Respuestas | Lecturas | Último envío | Idioma | |
---|---|---|---|---|---|---|
Críticas/Varios | "O mundo já não é das palavras" | 2 | 1.227 | 04/13/2011 - 12:19 | Portuguese | |
Poesia/Desilusión | À deriva | 2 | 780 | 05/05/2011 - 18:08 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Amor | A minha origem e o meu fim! | 0 | 458 | 03/15/2011 - 01:52 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Amor | A Razão... | 0 | 456 | 03/29/2011 - 15:03 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Amor | A verdade incómoda | 0 | 479 | 03/15/2011 - 12:02 | Portuguese | |
Prosas/Romance | Acorda Clara... Por favor! | 0 | 618 | 04/22/2011 - 13:22 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Pasión | Agarra-me! | 0 | 574 | 03/15/2011 - 12:08 | Portuguese | |
Prosas/Erótico | Amar é levar o pequeno-almoço à cama | 0 | 1.686 | 03/15/2011 - 16:13 | Portuguese | |
Poesia/Erótico | Amarro-te! | 3 | 2.206 | 01/27/2013 - 16:45 | Portuguese | |
Prosas/Erótico | As noites da Pantera | 0 | 722 | 04/15/2011 - 11:46 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Pasión | Assim se baila El Tango! | 0 | 513 | 03/26/2011 - 18:54 | Portuguese | |
Prosas/Contos | Brilho | 0 | 1.795 | 01/12/2013 - 23:20 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Desilusión | Claramente | 0 | 675 | 03/15/2011 - 15:16 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Amor | Confesso | 0 | 498 | 03/15/2011 - 11:36 | Portuguese | |
Poesia/Pensamientos | Confissões de um conquistador | 0 | 1.502 | 09/22/2014 - 18:47 | Portuguese | |
Prosas/Contos | Cupido | 0 | 745 | 03/15/2011 - 16:23 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Desilusión | Deixa-me ir! | 0 | 409 | 03/19/2011 - 22:53 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Pasión | Delírio solitário | 0 | 412 | 03/28/2011 - 16:13 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Pasión | Desejo Febril | 0 | 601 | 03/15/2011 - 11:30 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Pasión | Desejo felino | 0 | 398 | 03/25/2011 - 16:01 | Portuguese | |
Prosas/Romance | Doce arrepio | 7 | 1.139 | 04/04/2011 - 16:13 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Amor | E o impossível acontece | 0 | 543 | 03/15/2011 - 11:20 | Portuguese | |
Ministério da Poesia/Intervención | Em queda livre | 0 | 603 | 03/15/2011 - 15:50 | Portuguese | |
Prosas/Contos | Esculpidos na pedra | 0 | 1.381 | 01/12/2013 - 23:15 | Portuguese | |
Poesia/Amor | Espero | 0 | 1.569 | 01/12/2013 - 23:10 | Portuguese |
- 1
- 2
- 3
- 4
- siguiente ›
- última »
Add comment