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Olhar o spleen de Candido dos Reis
O olhar perdeu-se num bar
Apaixonado pela boémia
Beijou os lábios quentes
E saboreou naquela língua
Noites repletas de jazz
Compostas de whiskey
E sentiu-se por momentos
Feliz
Acabando o resto que estava no copo
A chuva morrinha
Continua a sarapintar
As portas de vidro
Lá fora um vagabundo
Bebe um trago
Da sua garrafa de plástico
E vê
Quem sai
Quem entra
Como sempre fez
Habituando-se ao hábito
De existir conformado
Mas a noite explode
Pela boca de milhares de trompetes
As pernas das moças
Brilham em meias de licra
Sempre que um lampião
Treme a luz
Como se estivesse a piscar o olhar
Que já bêbedo
Corteja versos
Inventa histórias
E pede mais um disparo
De whiskey novo
Sabendo que está praticamente liso
E só
Como sempre
Diante de um balcão
Construído sobre melancolia
Chove
O som metalizado
Das gotas a cair pelos velhos canos
Das caleiras ferrugentas
Perfuradas pelo tempo
Que as abandonou
Cravadas na carne podre
Dos prédios nocturnos
Iluminados pelo placar luminoso
Da hospedaria
Mostrando a tinta
A descascar-se
Como um quadro velho
À muito esquecido
Nas memórias de um olhar
Negro
Que eu não consigo esquecer
Enquanto fumo meio cigarro
E o nevoeiro se abate
Como um manto de gás
Sobre a rua Cândido dos Reis
Deserta nos passeios
E cheia de spleen
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