Amar é levar o pequeno-almoço à cama


Clara adormeceu no sofá, no colo folhas de papel e palavras com haste.

Esta semana é a terceira vez que Alex acorda com a almofada vizinha despida de corpo. Puxa-a para si como se puxasse Clara e deita-se na almofada como se deitasse sobre ela.

Não adormece. Não adormece porque está mergulhado no cheiro de Clara, uma fragrância que inebria e desperta. Desperto, preenche a cama de desejos, imagens dela, recordações de si. O calor aumenta e afasta os lençóis.

Clara estivera a ouvir música e a escrever. Isola-se num espaço reduzido, mas aconchegante. A inspiração é caprichosa, precisa de um certo ambiente. Clara transforma o espaço, altera a atmosfera e deixa-se levar, por vezes, por horas que rouba aos dois. O relógio de uma escritora tem horas roubadas, horas emprestadas, horas recolhidas, horas interrompidas, horas lembradas ou esquecidas.

Alex sabe que a criatividade em ebulição não se pode travar. Assim, como o desejo de um homem numa cama repleta de horas vividas a dois. É o seu sorriso que segue o perfume dela pela casa.

Clara adormeceu no sofá, no colo folhas de papel e palavras com haste. Dorme profundamente e não sente que Alex a carrega como se a fosse quebrar. Ela sorri, sente-se flutuar. O céu tem o cheiro amado. Um cheiro que inebria e que desperta.

Clara sente na ponta dos dedos a vontade. Morde os lábios enquanto esta se torna impaciente. Abre o corpo como um lago. Ele mergulha.

Os olhares aquecidos despiram as roupas, invadiram o silêncio com ondas de exclamações. Por vezes, entre eles, os preliminares são pupilas dilatadas. Quando assim é, por norma, o êxtase vibra com a dança das serpentes. Corpos que ondulam entrelaçados fundem-se em convulsão.

O orgasmo é melódico. As notas suadas desprendem-se e ambos adormecem.

A manhã invade o quarto e beija os amantes. O lençol encobre o movimento das almas ao despertar. Primeiro, sentem o seu invólucro, tomam posse de si. Depois, sentem o corpo do outro no movimento suave das extremidades. Parecem searas ao vento. Uma brisa entre os braços que se amam. Laços que não se desprendem, apenas brincam na leve corrente.

Os estômagos pedem alimento matinal. Eles fingem não ouvir. Olham-se nos olhos, absorvem o cheiro, rasgam o sorriso.

_ Queres o pequeno-almoço? – Pergunta entumecido pela fragrância dela.

_ Sim, por favor! Outra vez!

O lençol afasta-se. Não aguenta o calor.

Publicado no Blog Broken Wings e no PEAPAZ

Submited by

Martes, Marzo 15, 2011 - 16:13

Prosas :

Sin votos aún

Ema Moura

Imagen de Ema Moura
Desconectado
Título: Membro
Last seen: Hace 4 años 48 semanas
Integró: 03/15/2011
Posts:
Points: 317

Add comment

Inicie sesión para enviar comentarios

other contents of Ema Moura

Tema Títuloordenar por icono Respuestas Lecturas Último envío Idioma
Críticas/Varios "O mundo já não é das palavras" 2 1.226 04/13/2011 - 12:19 Portuguese
Poesia/Desilusión À deriva 2 780 05/05/2011 - 18:08 Portuguese
Ministério da Poesia/Amor A minha origem e o meu fim! 0 458 03/15/2011 - 01:52 Portuguese
Ministério da Poesia/Amor A Razão... 0 456 03/29/2011 - 15:03 Portuguese
Ministério da Poesia/Amor A verdade incómoda 0 478 03/15/2011 - 12:02 Portuguese
Prosas/Romance Acorda Clara... Por favor! 0 617 04/22/2011 - 13:22 Portuguese
Ministério da Poesia/Pasión Agarra-me! 0 574 03/15/2011 - 12:08 Portuguese
Prosas/Erótico Amar é levar o pequeno-almoço à cama 0 1.680 03/15/2011 - 16:13 Portuguese
Poesia/Erótico Amarro-te! 3 2.192 01/27/2013 - 16:45 Portuguese
Prosas/Erótico As noites da Pantera 0 722 04/15/2011 - 11:46 Portuguese
Ministério da Poesia/Pasión Assim se baila El Tango! 0 513 03/26/2011 - 18:54 Portuguese
Prosas/Contos Brilho 0 1.791 01/12/2013 - 23:20 Portuguese
Ministério da Poesia/Desilusión Claramente 0 674 03/15/2011 - 15:16 Portuguese
Ministério da Poesia/Amor Confesso 0 498 03/15/2011 - 11:36 Portuguese
Poesia/Pensamientos Confissões de um conquistador 0 1.496 09/22/2014 - 18:47 Portuguese
Prosas/Contos Cupido 0 744 03/15/2011 - 16:23 Portuguese
Ministério da Poesia/Desilusión Deixa-me ir! 0 409 03/19/2011 - 22:53 Portuguese
Ministério da Poesia/Pasión Delírio solitário 0 411 03/28/2011 - 16:13 Portuguese
Ministério da Poesia/Pasión Desejo Febril 0 601 03/15/2011 - 11:30 Portuguese
Ministério da Poesia/Pasión Desejo felino 0 398 03/25/2011 - 16:01 Portuguese
Prosas/Romance Doce arrepio 7 1.138 04/04/2011 - 16:13 Portuguese
Ministério da Poesia/Amor E o impossível acontece 0 542 03/15/2011 - 11:20 Portuguese
Ministério da Poesia/Intervención Em queda livre 0 603 03/15/2011 - 15:50 Portuguese
Prosas/Contos Esculpidos na pedra 0 1.378 01/12/2013 - 23:15 Portuguese
Poesia/Amor Espero 0 1.568 01/12/2013 - 23:10 Portuguese