CONCURSOS:

Edite o seu Livro! A corpos editora edita todos os géneros literários. Clique aqui.
Quer editar o seu livro de Poesia?  Clique aqui.
Procuram-se modelos para as nossas capas! Clique aqui.
Procuram-se atores e atrizes! Clique aqui.

 

«Pele...»

Ao cessar o barulho do motor, o silêncio chegou-lhe aos ouvidos como um som gritado a distância. Não sabe como ali chegou ou porque parou. Absorta, permanece imóvel observando a invasão húmida que satura o ar. O olhar suspenso segue o contador dos minutos e os pensamentos perdem-se por entre fios de cabelos que se alisam no movimento repetitivo dos dedos.
«Pele…»

O som generoso da chuva e o eco dos seus salpicos fazem-se sentir, arrancando-a do estado letárgico a que se entregou. Água e pele, pedras a um charco provocando ondas, gerando um impulso que lhe percorre o corpo. Em resposta, os movimentos mecânicos param e os lábios distendem-se num sorriso que compreende tudo o que é necessário e o que deve ser feito. «Pele…» - A sua pele antes e mais do que qualquer outra.
Subitamente, como se estivessem livres de todo o torpor, os dedos deslizaram pelo pescoço, cercando sorrateiros o emaranhado de botões, livrando-a habilmente de toda a roupa.   Pudesse de igual modo despir-se de todos os seus receios, mas a verdade é que se sente hesitar e receia ser tomada pela indecisão. Então, de olhos postos no tecido protector, inspirou - conciliando os seus receios e os seus desejos – e antecipando-se à crescente hesitação, abriu a janela e atirou as roupas fora.

Assim permaneceu breves minutos na noite escura, inalando e exalando compassadamente, estabilizando o ritmo cardíaco. Oculta, sorria empática ao contemplar as sombras apressadas fustigadas pela chuva, corpos encolhidos, vergados por outras vontades. Também ela conhecia uma vontade vergada, rejeitada ou negada. Também ela reconhecia no seu próprio corpo as marcas curvadas da submissão. Assim, fora um dia e por demasiado tempo!

Vestiu a gabardine, que tinha passado despercebida no banco de trás, ligou o carro e concentrou-se na imagem mental que se afigurava como sendo o seu caminho e destino. O trajecto fê-lo voando, animada pela visão de memórias futuras. Imagens nítidas, marcadas apenas pela ausência da cor, contrastando com uma pele ornamentada em tons de rosa e de vermelho ruborizado.
«Pele…» - A sua já não lhe bastava.

Ao chegar à praia, encontrou na agitação marítima um eco do tumulto que sentia. Espelho dos seus receios e desejos, a espuma rendia-se corajosamente na areia branca, incentivando-a a prosseguir no seu caminho. A expectativa crescente abre comportas e uma mistura explosiva, aromática e erótica percorre-a como uma corrente eléctrica, fazendo-a caminhar com a agilidade de um felino. Um único pensamento, um enfoque claro na direcção a seguir… Ele já a esperava e ela fizera-o esperar como ninguém.
«Uma vida! » - Dizia-lhe.

A cada passo, um gesto [a certeza dos seus sentimentos, desfazia todos os nós]. Os seus olhos, habituados à escuridão, orientavam-na rumo à casa na praia, à porta aberta, à silhueta masculina. Ele estava à porta, no olhar uma ânsia que tomara lugar por demasiado tempo.
«Pele...» - Ele queria-a e a sua já não lhe bastava.

Tentou esboçar um som de boas-vindas, mas as ondas do mar, em rebentação costeira, apenas facilitavam a linguagem dos olhos. Abriu os braços, fechou-os num abraço...

Mais tarde, teriam de procurar as marcas da sua passagem, conectando à terra o sonho que ora viviam. Entretanto, cada toque aproximava-os mais da sua forma etérea e a pele, que tanto queriam, era já uma mescla de fragrâncias invadindo todo o ambiente.

Conto publicado no blog Broken Wings e na Rede Social PEAPAZ

Submited by

segunda-feira, setembro 22, 2014 - 17:52

Prosas :

No votes yet

Ema Moura

imagem de Ema Moura
Offline
Título: Membro
Última vez online: há 4 anos 40 semanas
Membro desde: 03/15/2011
Conteúdos:
Pontos: 317

Add comment

Se logue para poder enviar comentários

other contents of Ema Moura

Tópico Título Respostas Views Last Postícone de ordenação Língua
Ministério da Poesia/Amor Nada mais (nona carta) 0 1.302 09/22/2014 - 17:54 Português
Prosas/Contos «Pele...» 0 1.205 09/22/2014 - 17:52 Português
Prosas/Erótico Proposta 0 1.487 09/22/2014 - 17:50 Português
Poesia/Pensamentos Confissões de um conquistador 0 1.468 09/22/2014 - 17:47 Português
Poesia/Pensamentos Pintura introspectiva 0 1.447 09/20/2014 - 10:19 Português
Poesia/Pensamentos Silencia o teu amor 0 1.205 09/20/2014 - 10:17 Português
Prosas/Pensamentos Monólogo da memória 0 1.124 09/20/2014 - 10:15 Português
Poesia/Paixão Obsessão 0 1.356 09/20/2014 - 10:10 Português
Poesia/Erótico Tortura, anseio... 1 1.349 01/27/2013 - 21:47 Português
Prosas/Contos Inspira, relaxa e divaga... Suspira! 2 1.330 01/27/2013 - 16:40 Português
Prosas/Erótico Outra vez! 2 2.064 01/27/2013 - 16:36 Português
Poesia/Paixão Quero-te outra vez... 0 1.196 01/27/2013 - 16:08 Português
Poesia/Amor Ouve-me 1 1.308 01/27/2013 - 15:50 Português
Poesia/Erótico Amarro-te! 3 2.097 01/27/2013 - 15:45 Português
Poesia/Meditação Ofélia 0 1.212 01/12/2013 - 22:34 Português
Prosas/Contos Brilho 0 1.768 01/12/2013 - 22:20 Português
Prosas/Contos Esculpidos na pedra 0 1.350 01/12/2013 - 22:15 Português
Poesia/Amor Espero 0 1.514 01/12/2013 - 22:10 Português
Prosas/Romance Hoje, o céu é meu... 0 1.545 08/11/2011 - 13:09 Português
Poesia/Meditação Saudade poética 2 1.482 07/09/2011 - 01:59 Português
Prosas/Erótico O desejo é muito mais que um brilho no olhar... 0 1.521 07/07/2011 - 22:17 Português
Prosas/Erótico Tortura 0 1.401 07/07/2011 - 22:13 Português
Prosas/Pensamentos Hoje 0 1.534 07/07/2011 - 22:06 Português
Prosas/Erótico «Surpresa. Hoje é dia de pagamento!» 0 1.567 07/07/2011 - 21:59 Português
Prosas/Erótico Saltos inquietos 0 1.461 07/07/2011 - 21:56 Português