DIMORFO, LIVRO DE SILÊNCIOS

Alucinações de mãos armadas,
sinas armadilhadas, angustiadas.

Pedras atiradas à voz, brejeiras.

Cavilhas cravadas nos pés dos olhos.

Olhar,
esgar de dor,
rosto engasgado de sono,
penitente martírio de gente, unívoca.

Multidões submetidas à distorção.

Corpos doados ao serão,
entoados em não gago, enlatado.

Verbo de coração falecido, esquecido.

Ruas de alho,
limiares de inferno,
moinho de conversas francas,
ninho de famílias em branco, cinzeiro.

Invernos,
cavernas de ficar,
tabernas de vontade decapitada.

Arranhões da alma,
arrastões de calma imediata,
intacta raiva de emoções de nada, dimorfo.

Lufada de palavras,
madrugada de beijo destruído,
dedos violados por pseudo-carma.

Elos eunucos.

Preto morte,
cinzento norte,
arco-íris de sorte a murro.

Casmurro chão, bocas sem pernas.

Passadas abalroadas por mar,
afogadas línguas num livro de silêncios.

Momentos sem lar,
paixões sem ar num jarro de flores de chumbo.

Pulmão de nascentes plásticas, bugiganga.

Águas de fogo,
chuva de estrelas apagadas,
cores puxadas por cavalos de vento.

Destinos de ferro,
fés de barro desbravado,
orquestra de portas enferrujadas.