O viço dos seios

Tentamos atravessar longas escadarias
Que separam nossos corações ditirâmbicos.
Maldita súplica pelo néctar da vida
Na nódoa derramada pelo dom profanado
Pelos nossos impetuosos laços de desejos.

Dormíamos nas nuvens esbranquiçadas
Dentro do céu de nossa cama
E olhávamos para fora do que “era”,
Mas o que “é” tornou-se um suspiro de tristeza.

Os passos seguiram caminhos contrários
Na estrada mal emplacada de nossas vidas,
Como o dia movido por um céu límpido e claro
Que de repente bombardeia raios numa fúria veloz.

Assim foi o nosso céu:
Irrequieto e repleto de insetos no teto da desventura,
Desequilibrado e envenenado por dardos de gritos amordaçados,
Temperamental acidental brutal.

O amor foi o laço que enforcou minha novilha desgarrada,
O meu coração foi o cavalo que a puxou até cair enforcada
Apartando-a do meu curral para algum lugar infernal.

Somos culpados sem saber de quem é a culpa.

Seu corpo ainda mora no meu
E o meu corpo ainda veste o seu.
Seus cabelos estão amarrados em meus dedos
E os meus dedos estão atolados em seus seios.

Você vê o que meus olhos vêem,
Meus olhos não vêem porque só vislumbram o que você vê.
Sua fragrância é o perfume de tudo que cheiro
No olfato de minhas narinas viciadas em você.
Você é a droga que me vicia
E eu sou o vício que você necessita.

Antes de soltarmos nossas mãos,
Tocamos um no outro,
Só que a “contrariedade” sempre encontra o que não é “contrário”.
A luz foi morta pelo escuro na guerra do amor e do ódio.

Choveu no nosso dia de tristeza
E perdi o significado de tudo,
Porque não sei mais o que é você.
Crucificamos nossas alegrias
Na intempérie de nossos atos.
Nevou na nossa fria espinha
Até nossas salivas serem congeladas.

Não sei mais o que é doce,
Não sei mais o que é felicidade,
Nem sei se ainda estou aqui.
Você foi para onde eu não existo.

Só lembro de sua sombra que veio
Como a noite cruel.
Depois disto passei a lutar
Para matar a noite
Até encontrá-la em algum lugar solitário.

Os anos foram se arrastando
Até me esquecer que estava aqui,
Fiquei cego, desaprendi o que aprendi.
Por fim, continuei no ar
Para prantear a memória de sua face separada
Pela parede do infortúnio.
Amanhã serei feliz,
Pois a morte traz a esperança de ter-te novamente,
Nascerei, abrirei meus olhos
Até você brilhar em minha frente.

Não é o tempo que aumenta a dor
E sim a dor que transforma o tempo em eternidade.

Submited by

Thursday, December 17, 2009 - 00:03

Ministério da Poesia :

No votes yet

FranciscoEspurio

FranciscoEspurio's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 13 years 29 weeks ago
Joined: 11/08/2009
Posts:
Points: 450

Add comment

Login to post comments

other contents of FranciscoEspurio

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Fotos/Profile 2085 0 1.867 11/24/2010 - 00:45 Portuguese
Ministério da Poesia/General Tentativas inúteis na sacada 0 2.707 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/General Odisséia 0 2.296 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/Dedicated No caminho das pedras brilhantes (São Thomé das Letras) 0 3.058 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/General O viço dos seios 0 2.855 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/Intervention A pele iraquiana 0 2.379 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/General O revés 0 2.287 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/General O guardião 0 2.307 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/General O Demônio Interior 0 2.134 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/General Morte ao amanhecer 0 2.168 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/General Death to be born wise 0 2.359 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/Dedicated O texto de um pai 0 2.965 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/Fantasy Ninfas 0 2.596 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/General Atado ao Umbigo 0 2.221 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/Intervention Pentáculo 0 2.191 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/Dedicated Jean Baptiste Grenouille 0 2.777 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/General O estocástico 0 1.923 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/General Sido Ser 0 1.905 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/General Grão latente 0 3.244 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/General O salto das horas 0 2.571 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/General Segure minhas mãos 0 2.292 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/Intervention Decepção da obra e do poder 0 2.378 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/General O ensejo da soma 0 2.317 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/General Perdição 0 2.265 11/19/2010 - 19:10 Portuguese
Ministério da Poesia/Dedicated Figura de madeira disforme que orna a proa de minha embarcação (Carrancas) 0 2.262 11/19/2010 - 19:10 Portuguese