JÁ FOSTE FLOR, AGORA ÉS SILÊNCIO

Já foste um tempo
em que eu passava pelas flores
e colhia uma para te oferecer.
Escolhia sempre a mais bela
nem que fosse quase murcha,
mas era única naquele momento de amor.
Era sempre a mais bela
que via em qualquer jardim
ou simplesmente à beira das estradas
que percorria por ti.

Agora que me entristeces,
passo pelas mesmas flores
e já nem sequer as olho,
apenas sinto vontade de as cuspir.
O arco do arco-íris
já não é perfeito como quando te olhava
repleto de mil cores interiores.
Esse mesmo arco,
agora nos meus olhos
é como que uma serpente se enroscasse
ao meu coração em busca de refeição.

Já tivemos um tempo
em eu abria a janela da vida
para que o luar me ajudasse a te encontrar.
Mas não te encontrava
em qualquer luar, estavas sempre
na lua-cheia.
Eras o prateado mais prata
do que todas as luas juntas numa só janela.

Agora que me entristeces,
a mesma janela é um eclipse
de cortinas desconfiadas.
Procurar-te tornou-se
num caminho de chuvas constantes.
Agora apenas te encontro a deambular
sobre céus de nuvens cinzento-escuro.
O que fora prateado
agora são trevas onde montas puzzles
com os teus pesadelos trovados em mim.

Passamos por um tempo
em que os nossos beijos eram fogueiras
mais altas que as fogueiras de São João.
Era paixão intensa,
tão intensa que tudo parecia arder
em nosso redor alucinado a dois.
Eram beijos
tão loucos tão loucos,
que nos sentíamos ser o próprio fragor do fogo.

Agora que me entristeces,
o sol é uma esfera de gelo amarelo doente
num copo de lágrimas que a saudade de ti rejeita.

Tudo quanto era algodão agora é pedra.

Tudo agora é silêncio.
 

Submited by

Thursday, January 13, 2011 - 18:50

Poesia :

No votes yet

Henrique

Henrique's picture
Offline
Title: Membro
Last seen: 10 years 20 weeks ago
Joined: 03/07/2008
Posts:
Points: 34815

Add comment

Login to post comments

other contents of Henrique

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Aphorism BEM VISTO 0 14.099 01/15/2015 - 15:36 Portuguese
Poesia/Thoughts DESTRUIÇÃO 0 2.971 01/13/2015 - 21:56 Portuguese
Poesia/Thoughts CALMA 0 9.447 01/13/2015 - 14:13 Portuguese
Poesia/Thoughts QUE VIDA ME MATA DE TANTO VIVER 0 2.608 01/12/2015 - 21:18 Portuguese
Poesia/Aphorism SEM AUSÊNCIA 0 4.858 01/12/2015 - 18:03 Portuguese
Poesia/Aphorism Pior do que morrer, é não ressuscitar... 0 6.171 01/11/2015 - 23:04 Portuguese
Poesia/Thoughts CHOCALHO DE SAUDADE 0 4.031 01/11/2015 - 17:30 Portuguese
Poesia/Thoughts GRITO QUE AS MÃOS ACENAM NO ADEUS 0 7.175 01/11/2015 - 00:07 Portuguese
Poesia/Thoughts SOVA DE ALGURES 0 3.896 01/10/2015 - 20:55 Portuguese
Poesia/Thoughts SORRATEIRAMENTE 0 3.448 01/09/2015 - 20:33 Portuguese
Poesia/Thoughts SILÊNCIO TOTAL 0 4.232 01/08/2015 - 21:00 Portuguese
Prosas/Terror FUMAR É... 1 10.601 06/17/2014 - 04:23 Portuguese
Poesia/Love COMPLETAMENTE … 1 3.491 11/27/2013 - 23:44 Portuguese
Videos/Music The Cars-Drive 1 4.725 11/25/2013 - 11:52 Portuguese
Poesia/Passion REVÉRBEROS SÓIS … 1 3.546 08/15/2013 - 16:23 Portuguese
Poesia/Meditation AS ENTRANHAS DO SILÊNCIO … 0 2.611 07/15/2013 - 20:37 Portuguese
Poesia/Meditation TIQUETAQUEAR … 0 3.090 07/04/2013 - 22:01 Portuguese
Poesia/Sadness AMOR CUJO CARVÃO SE INCENDEIA DE GELO … 0 5.118 07/02/2013 - 20:15 Portuguese
Poesia/Sadness ONDE A NOITE SEMEIA DESERTOS DE ESCURIDÃO … 0 3.697 06/28/2013 - 20:58 Portuguese
Poesia/Meditation ESCOLHO VIVER … 1 3.139 06/26/2013 - 09:42 Portuguese
Fotos/Art Se podia ser mortal? 0 10.937 06/24/2013 - 21:15 Portuguese
Fotos/Art Um beijo com amor dado ... 0 5.679 06/24/2013 - 21:14 Portuguese
Poesia/Meditation AZEDAS TETAS DA REALIDADE … 0 3.954 06/22/2013 - 20:36 Portuguese
Poesia/Meditation FAÍSCAS NA ESCURIDÃO … 0 8.252 06/18/2013 - 22:52 Portuguese
Poesia/Meditation QUANTO BASTE … 0 5.343 06/10/2013 - 21:23 Portuguese