ATÉ QUE A MORTE NOS SEPARE
Quando à noite
já não fores tu a minha lua,
meus olhos deixarão de ver o luar.
Serei despejo à tona
de um rio de lágrimas,
escorridas pela face em vão.
Esquecerei
o meu nome sobre a tua sepultura.
Quando já não fores tu
o sol dos meus dias quentes,
meu corpo hibernará em sombras.
Serei nódoa
no o pano do tempo
que bordaste com carinho.
A água
da chuva será vinagre
no fosso das minhas horas sem ti.
Quando já não for
a tua voz que fala o vento,
minha alma ficará muda em tempestade.
A esperança
será um circo de medos
humedecidos pela ansiedade.
Chorarei flores murchas
de não te ter nos meus braços.
Quando o silêncio
já não for o sabor do beijo,
minha boca será um cacto no deserto.
Meus lábios
serão escravos do desejo
enforcado no átrio de uma cama fria.
O teu adeus
será um aceno interminável
até que a morte me leve também.
Quando já não
fores tu o meu Verão,
a vida será um floco de neve.
O brilho do meu olhar
será um inverno mais que infinito.
Os meus poemas
serão folhas caídas no fado do Outono.
Quando as palavras
já não forem o teu amor,
meu sorriso será um barco afundado.
O meu amor
ficará ancorado no nevoeiro
onde esperarás por mim na eternidade.
O meu reflexo no espelho
será de espinhos tirados a uma rosa.
Quando a tua mão
já não for o meu caminho,
meus pés serão penitenciários.
O meu amar-te
será um cárcere de saudade.
A minha cara
será um arbusto de corujas
agoirentas pela madrugada do grito.
Vamo-nos amar
desde que a vida nos juntou
até que a morte um dia nos separe.
Submited by
Poesia :
- Login to post comments
- 695 reads
Add comment
other contents of Henrique
Topic | Title | Replies | Views | Last Post | Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Aphorism | BEM VISTO | 0 | 3.015 | 01/15/2015 - 15:36 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | DESTRUIÇÃO | 0 | 687 | 01/13/2015 - 21:56 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | CALMA | 0 | 1.762 | 01/13/2015 - 14:13 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | QUE VIDA ME MATA DE TANTO VIVER | 0 | 940 | 01/12/2015 - 21:18 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | SEM AUSÊNCIA | 0 | 1.451 | 01/12/2015 - 18:03 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Pior do que morrer, é não ressuscitar... | 0 | 2.547 | 01/11/2015 - 23:04 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | CHOCALHO DE SAUDADE | 0 | 1.092 | 01/11/2015 - 17:30 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | GRITO QUE AS MÃOS ACENAM NO ADEUS | 0 | 1.216 | 01/11/2015 - 00:07 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | SOVA DE ALGURES | 0 | 1.058 | 01/10/2015 - 20:55 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | SORRATEIRAMENTE | 0 | 1.433 | 01/09/2015 - 20:33 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | SILÊNCIO TOTAL | 0 | 1.577 | 01/08/2015 - 21:00 | Portuguese | |
Prosas/Terror | FUMAR É... | 1 | 5.328 | 06/17/2014 - 04:23 | Portuguese | |
Poesia/Love | COMPLETAMENTE … | 1 | 1.832 | 11/27/2013 - 23:44 | Portuguese | |
Videos/Music | The Cars-Drive | 1 | 1.862 | 11/25/2013 - 11:52 | Portuguese | |
Poesia/Passion | REVÉRBEROS SÓIS … | 1 | 1.789 | 08/15/2013 - 16:23 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | AS ENTRANHAS DO SILÊNCIO … | 0 | 1.345 | 07/15/2013 - 20:37 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | TIQUETAQUEAR … | 0 | 2.224 | 07/04/2013 - 22:01 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | AMOR CUJO CARVÃO SE INCENDEIA DE GELO … | 0 | 1.773 | 07/02/2013 - 20:15 | Portuguese | |
Poesia/Sadness | ONDE A NOITE SEMEIA DESERTOS DE ESCURIDÃO … | 0 | 1.503 | 06/28/2013 - 20:58 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | ESCOLHO VIVER … | 1 | 2.051 | 06/26/2013 - 09:42 | Portuguese | |
Fotos/Art | Se podia ser mortal? | 0 | 3.810 | 06/24/2013 - 21:15 | Portuguese | |
Fotos/Art | Um beijo com amor dado ... | 0 | 2.335 | 06/24/2013 - 21:14 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | AZEDAS TETAS DA REALIDADE … | 0 | 1.086 | 06/22/2013 - 20:36 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | FAÍSCAS NA ESCURIDÃO … | 0 | 1.242 | 06/18/2013 - 22:52 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | QUANTO BASTE … | 0 | 800 | 06/10/2013 - 21:23 | Portuguese |
Comments
Re: ATÉ QUE A MORTE NOS SEPARE
"Quando", marca temporal de um tempo futuro, indiciador do que poderá acontecer perante o sentimento de perda. Perda essa que remete para a não vida, pelo que é urgente amar, "é urgente o amor", "eu quero, amar, amar, peridamente".
"Quando já não fores tu
o sol dos meus dias quentes,
meu corpo hibernará em sombras."
Pelo que,
"Vamo-nos amar
desde que a vida nos juntou
até que a morte um dia nos separe."
Um beijo
Quimeras
Re: ATÉ QUE A MORTE NOS SEPARE
..."Vamo-nos amar
desde que a vida nos juntou
até que a morte um dia nos separe."
A vida reserva muitas surpresas e podemos perder alguem que amamos num instante...Somente o tempo pra curar as dores da vida.
um abraço!
Re: ATÉ QUE A MORTE NOS SEPARE
Será que a morte separa?
Teu poema diz que sempre te lembraras, descreves-te lembrando sempre o amor sentido.
Lindo.
Re: ATÉ QUE A MORTE NOS SEPARE
Lindooooooooooo :-(
Separa fisicamente, só!!!
Re: ATÉ QUE A MORTE NOS SEPARE
Serei despejo à tona
de um rio de lágrimas,
escorridas pela face em vão.
Meus lábios
serão escravos do desejo
enforcado no átrio de uma cama fria.
Lindo Henrique!
Amar até à eternidade.
Depois da morte, na outra vida.
Abraço.
Vitor.
Re: ATÉ QUE A MORTE NOS SEPARE
Bonita a forma e o miolo...oxalá consigas servir tão grandiosa iguaria a ti e à tua donzela.
Além das letras, da beleza que se descreve, do que enleia a iris e encanta as sintaxes, há o objecto que se coisifica, que se sentifica e se imiscui nesse crer estético. Além do signo que se tece em sublimes écharpes multidimensionais há a ideia que se poliniza...gostei de todo este teu canto: voz, morfemas e real...
Re: ATÉ QUE A MORTE NOS SEPARE
Caro poeta,
A qualidade da sua escrita é impressionante. É um prazer enorme ler o que escreve. Abraços, de um leitor atento
Re: ATÉ QUE A MORTE NOS SEPARE
"vamo-nos amar
desde que a vida nos juntou
até que a morte um dia nos separe"
Um SIM para toda a vida!Gostei muito!!!
Abraço
Varenka