Loucura

Pura loucura pura de lucidez pura,
É a loucura.
Musa minha musa,
É a loucura.
A loucura
De nossos pensamentos dilacerados,
De nossos corpos mal embalados,
A loucura.
De tudo que pensávamos vivenciar,
De todas as coisas suspensas flutuantes
Loucas soltas em sítios apedrejados
Por ondas memoráveis,
A loucura.

Nem esperança de olhares nascidos,
Nem tristeza dos amores desgastados,
A loucura.
Meus olhos nunca mais estarão dentro dos seus
Nunca mais
Nunca mais compadecerás outra vez.

Dá pra imaginar... Sobre o que poderias ser?...
Tão vazio e tão desconhecido
Necessitando de ânsia para explorar cantos escuros e sombrios
Na ausência de ânsia da soma doida por coisas decaídas?

Santidades esculpidas em carne e pintadas em sangue,
Planejadas pelo fortuito num plano esmaecido?
Multidão em ira absorve-nos em suas bocas gritantes...
E a razão sendo esgotada pela solidão?
E a razão sendo perdida na canção?

Lamento, mas não nos encontraremos em nossa escuridão,
Nem em memórias de sonhos primaverais
Ou janeiros inundados por enxurradas das dezenove horas.

Imagine, estarmos tão perto de tão longe
Em sons de palavras e saudades de quilômetros?
De um tocar o outro com total ausência de tato?
Flutuando em fumaças de incensos de rosas vermelhas
Consumindo nomes, semblantes e existências?

Nossos medos seguem a estrada onde crianças brincam
À espera de finas insanas chuvas outonais.

Autopistas representam infernos de pesadelos e movimentos sonâmbulos
Naquela voz de pneu cantado em língua de asfalto esbravejando:
_ Saia da infernal estrada!
Aqui somos lavrados pelo mau que mal sabe de nossas vidas
Ali somos devorados por outro mau tal qual.
Inertes, somos comida para os animais da lama na cama
De famintas prostituas viciadas em conflitos internos e drogas fortes.

Cenas estranhas nos contradizem...
E a mesma voz rouca de trovões em tempestades de britas e piches
Segue nos torturando:
¬_ Pegue a pista mais vazia!

O fragor do carro em seu motor de respiração ofegante
O vento batendo e costurando designes...
_ Vem correndo que eu te entendo!
Benze tu pista em velocidade ansiedade e medo - nossas visões,
Leva tu pista para ocas opacas incertezas de vida - nossas alucinações,
Sem clemência ou brandura, glória ou bravura.

Ela se levantou gotejada de sangue em rubros horizontes e cabelos em nuvens cortantes
Esfaqueando o pescoço da noite para capturar um único pensamento preso ao relento.
Saiu de seu lado inferior para chamar-se Manhã
E procurou um ser superior com a graça de Dia.

_ Encontre comigo no mais antigo sentido!

É doce olharmos onde nunca pensamos em olhar
Ou surrar cada memória dopada.
E esta loucura nos busca em nossas loucuras
Dá-nos as mãos para caminhar nas campinas do existencial.

Curamos-nos da realidade,
Sem culpa pela cura,
Mas prisioneiro inteiro de toda loucura
Presa culposa em mim.

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Wednesday, December 16, 2009 - 21:58

Ministério da Poesia :

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