Gosto Daqui...

Gosto daqui...
Gosto daqui pois tudo aqui parece calmo e perfeito
Sinto uma paz quase adormecida dentro de mim
Sinto a certeza de estar tudo como devia, em seu lugar!

Embora a perfeição pareça um sonho distante
Sonho com ela a todo momento
Talvez porque fiz da vida um mito, uma lenda
Um mito porque nunca pareceu acontecer
Uma lenda porque uma vez se ouviu falar como deveria ser

Mas ninguém viu
Ninguém procurou
E se, quando acreditou ser,
Aproximou pra ver
Percebera que apenas parecia...

Mas a perfeição não é difícil.
Difícil é o ideal que fazemos dela
A dúvida distorce a noção de realidade
E estamos sempre duvidando...
Duvidamos de tudo e não duvidamos atoa...
Desconfiados, duvidamos porque sempre tropeçamos
No que parecia estar certo e não estava
Desconfiamos porque só nos resta desconfiar
Se bom senso é senso de desconfiança apurado
Pairamos num sensível universo intuitivo
Onde a consistência da realidade depende de uma certa fé
Sem isso, tudo é solto, superficial, esquivo

Deslumbrados com o raciocínio
Queremos racionalizar até a perfeição
Enquanto o tempo arrasta a vida
Confundimos o ideal de perfeição.
Receio que perfeição é quando aquilo que parece ser
Não somente parece, mas também o é.
Tentados racionalizar tudo corrompemos a realidade.
Por fim, ficamos sem saber o que é o que.

O raciocínio, assim como a intuição são instintos inatos
Não conhecemos a natureza de suas necessidades
Ainda assim aplicamos utilidade para ele
(Quando, na verdade, queremos nos sentir úteis)
A intuição vem antes do raciocínio.
É a impressão primeira e genuína da realidade
Quando há mais de uma intuição, como de costume
Nos apavoramos, apelamos para o raciocínio para escolher
E, desta forma, com o passar do tempo de enganos e sofrimento
Aprendemos a não ouvir a intuição na sua forma pura
Aprendemos a corromper nossa percepção da realidade para escolher sem medo de errar
(Quando deveríamos, sim, aprender a escutar o medo, pois é ele quem nos guia
O medo é justamente quem nos avisa sobre o perigo iminente)
Mas assim aconteceu, e passamos a nos corromper também...

“Sem medo”, entenda-se “com segurança”.
“Com segurança”, entenda-se “com certeza absoluta”.
Tenho medo de certezas absolutas!
Alguma coisa me diz que elas não existam...
Acreditar nelas seria estar cego.
Nem são certezas e nem são absolutas
(Desconfio do absolutismo
Pois me parece um fim brusco e imediato, quase desesperado)
Desconfio que certezas absolutas nascem dos nossos erros
Erros de raciocínio...
Os erros de raciocínio acontecem sempre que ignoramos nosso sentido mais perspicaz
Pois ele não é concebido como instinto inato
E, sim, como alguma coisa inventada por nós
Desvirtuamos seu princípio, nossa natureza...

Gosto daqui porque o mundo lá fora dorme...todos dormem.
Daqui eu vejo de vez em quando um carro passar
Ouço um bêbado gritar, um casal brigar ao longe
Vem o caminhão de lixo, limpa deixando vestígios.
Muito tranqüilo...
Por que tranqüilidade está associado a letargia, dormência, quietude sempre?
Dormência é morte... Inconsciência
Como podemos estar calmos quando tudo a nossa volta morre na consciência?...
Talvez porque a tranqüilidade a que me refiro diz respeito somente a mim que estou acordado e a percebo
Logo ela seria um efeito da inconsciência a minha volta
Talvez por que a vida a meu redor tenha sido reinventada somente neste instante na minha consiência...
Tomou vida própria e agora tem sua própria idéia de perfeição
Já não diz respeito a mim, a minha vida...

Permite, a vida, que eu leve meu corpo a qualquer lugar que me dê uma impressão de paz, de lar
E mesmo que meu corpo esteja lá rodeado de uma certa paz
Eu percebo, com meus sentidos, que meus sentidos dormem
Junto com o mundo lá fora.
Volta a sensação de que algo foi esquecido, deixado para traz.
E, agora, nada me adianta estar ali “rodeado” de paz
E o conforto torna-se desconforto
A descoberta passa a ser perda
A fuga torna-se a própria busca
Procurar passa a ser preciso
E a paz finda como um ideal inatingível...

Lembro-me porque gosto daqui...
É porque aqui encontro a paz
Sempre arisca, furtiva, fugaz.
Desnorteado, ainda vagueio a sua procura
Tão querida, almejada, desejada, ausente, errante...
A paz, este lugar itinerante que se esconde dentro de mim!
E logo, logo vai partir...(Meu coração!)
Ó paz! Se você fosse presente
Eu simplesmente gritaria pelo seu nome...

_______________________________________

Outras divagações em

http://carlinhoscavalcanti.blogspot.com/

abraço a todos

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Jueves, Diciembre 15, 2011 - 19:22

Poesia :

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carlfilho

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... nasce tímido verso poesia

... nasce tímido verso

poesia que se constroi, fortalece

...

teoria da relatividade,

existência trémula, sente-se os contornos definidos

da percepção que transforma a realidade em ilusão

e da ilusão para a real sensação.

 

(e que pensar do outro? e dos outros?

dizia um certo príncipe, que o essencial é invisível aos olhos...

e que dizer do amor???)

 

....

Gosto daqui

 

Parabéns pelo momento de meditação.

Um Abraço.

 

Ricardo RodeiA

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