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Par(tu)( ri )(ente)...
Rasuro o tempo,
tento rasga-lo,
parti-lo ao meio,
descobri-lo de dentro para fora,
num parto provocado em cesariana de descoberta...
E a ferida aberta do tempo sangra...
São minutos paridos em contracções lentas,
minutos doridos,
filhos de horas violentas
que respiram o ar pela primeira vez...
Embalo-os um a um,
são todos parecidos comigo...
Há vozes que ecoam ao longe
que lhes querem pegar...
São memorias velhas na menopausa
com saudades da fecundidade,
a quererem sentir a maternidade
de novos dias junto aos seios secos e murchos...
E os minutos choram,
escancaram a goela,
porque elas têm pelos no buço
e os picam quando os beijam
e cheiram a naftalina que tresandam...
E as memorias revoltadas
quase os mandam de cabeça para o chão
num impulso frustrado e despeitado...
Mas seguram-se e pousam-nos no berço,
com olhar de desdém dizem:
Têm o feitio bravio da mãe!
E eu adormeço-os um a um,
lembro o momento em que semeei cada um deles...
E sei que nenhum filho sai rebelde por mero acaso!
Inês Dunas
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Poesia :
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Comentários
Re: Par(tu)( ri )(ente)...
num parto provocado em cesariana de descoberta...
E as memorias revoltadas
quase os mandam de cabeça para o chão
num impulso frustrado e despeitado...
E os minutos choram,
escancaram a goela,
porque elas têm pelos no buço
e os picam quando os beijam
e cheiram a naftalina que tresandam...
E sei que nenhum filho sai rebelde por mero acaso!
Fantástico!!!
Adjectivos recheados de intensidade!!!
:-)
Re: Par(tu)( ri )(ente)...
Cara amiga Inês, a rebeldia dos filhos é o mais natural, também nós, que hoje somos adultos...
Será que não fomos um pouco disso mesmo?
Adorei este teu texto e a sua mensagem onde endosso os meus parabéns amiga.
Um grande beijo Melo
Re: Par(tu)( ri )(ente)...
São minutos paridos em contracções lentas,
E os minutos choram,escancaram a goela,
Têm o feitio bravio da mãe!
O parto de um tempo perdido e anunciado, nas gastas memórias desses minutos que o tempo levou.
Ah tão malvado esse tempo, que comeu os minutos rebeldes, um predador, um falcão de grandes asas.
E a mãe coitada,a vê-los serem tragados, engolidos, dela tirados.
lembro o momento em que semeei cada um deles...
E sei que nenhum filho sai rebelde por mero acaso!
A dor de os ver partir!
Excelente!
Re: Par(tu)( ri )(ente)...
Isto aqui que escreves, não se limita a ser a dor parida e exalada por todos os poros da tua pele.
Isto que aqui te leio, é uma força em cadeia de palavras, construindo versos e exaltando os sonhos, que se fecham sempre ao virar da página
Um prazer enorme poder ler-te Inês
fantástico
Beijo
Re: Par(tu)( ri )(ente)...
Que poderia dizer, eu, mais,
para além, do que já foi dito, aqui?
Um texto, grande. Belíssimo,
realmente.
:-)
Re: Par(tu)( ri )(ente)...
Inês,
Fico encantada com a tua ímpar poesia,e este teu poema é de uma força questionadora,desnudando o sentir feminino numa profunda raiz...
Bj.
:-) Suzete.
Re: Par(tu)( ri )(ente)...
A dor de parir a existência, sob a ótica do feminino.
Inës, a tua poesia é lindamente escrita e recheada de belas imagens. Não sei se já te disse, mas sou sua fã!