Morro de mim
Sob o copioso pranto gelado
O corpo esbatido dos remos
Cambaleia na magra prancha da nau
O céu enfurece-se em cor
Negro, sombrio, em trovão
A vida em amotinação
Mais um passo à extremidade
De mãos atadas e punhal no dorso
Um desnecessário incentivo
O verbo rouco do velho corsário
Ordena a sentença já proferida por mim
A derradeira queda nas profundezas
A brisa faz-se vendaval
E o corpo cambaleia ao seu sabor
No porte da primeira lágrima
Na orla da quimera sonhada
Apenas sobre o revolto abismo
Questiono quão remoto morro de mim
No último sopro que me resta
Sussurro ao meu capataz
Não te devo este fim…é meu somente
Ergo o rosto e cerro os olhos
Sorrio à chuva que me massaja
E mergulho…
No voo pago a minha divida
E expulso todo o escorbuto
De uma vida de marinheiro
O impacto é feroz
E toda a dor sentida
É vã ao espírito que se eleva
Nada me passou pelos olhos
Pois nada tinha para ver
Espero agora viver na morte
Submited by
Poesia :
- Login to post comments
- 460 reads
Add comment
other contents of jopeman
Topic | Title | Replies | Views | Last Post | Language | |
---|---|---|---|---|---|---|
Poesia/Thoughts | Violentas Alegrias | 5 | 1.573 | 10/20/2011 - 21:16 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | Gostei sobretudo das árvores que davam pássaros | 4 | 1.567 | 10/20/2011 - 21:13 | Portuguese | |
Poesia/Love | sei que o amor é coisa de homens | 1 | 1.630 | 10/20/2011 - 21:10 | Portuguese | |
Fotos/Profile | 1129 | 0 | 2.739 | 11/24/2010 - 00:37 | Portuguese | |
Fotos/Profile | 1127 | 0 | 3.556 | 11/24/2010 - 00:34 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | Sou Vadio | 4 | 1.899 | 08/30/2010 - 09:57 | Portuguese | |
Poesia/General | Destino Manifesto | 2 | 2.148 | 08/22/2010 - 22:17 | Portuguese | |
Poesia/Aphorism | Quietude (Desafio Poético) | 3 | 1.750 | 08/02/2010 - 02:08 | Portuguese | |
Poesia/Dedicated | Jopeman - O caminho (ao WAF) | 2 | 1.684 | 07/06/2010 - 08:10 | Portuguese | |
Poesia/Love | A (quase) eterna leveza dos malmequeres | 1 | 2.233 | 06/24/2010 - 05:05 | Portuguese | |
Poesia/Thoughts | A terra é só terra e eu penso nisso vezes demais | 5 | 1.360 | 06/19/2010 - 22:35 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Portas | 7 | 1.768 | 06/12/2010 - 10:54 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Que morram todos os sinais | 1 | 1.829 | 06/12/2010 - 10:48 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | Viagem | 2 | 2.107 | 06/12/2010 - 10:41 | Portuguese | |
Prosas/Contos | Intuições | 5 | 1.568 | 05/17/2010 - 22:01 | Portuguese | |
Poesia/General | Só tu sabes! | 6 | 1.611 | 05/17/2010 - 22:00 | Portuguese | |
Poesia/Joy | Corro | 8 | 1.897 | 05/10/2010 - 15:06 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | As pedras não voam | 11 | 2.005 | 05/02/2010 - 03:15 | Portuguese | |
Poesia/General | Distâncias | 9 | 1.693 | 04/07/2010 - 20:29 | Portuguese | |
Poesia/General | Há aquelas coisas de que nunca penso se houver uma porta aberta | 7 | 1.403 | 03/26/2010 - 09:42 | Portuguese | |
Poesia/Love | Amor de sol e lua (duo com Analyra) | 6 | 1.935 | 03/23/2010 - 16:00 | Portuguese | |
Poesia/General | Continuo sentado à varanda | 7 | 1.872 | 03/17/2010 - 21:17 | Portuguese | |
Poesia/Disillusion | O filho do vento | 13 | 2.074 | 03/15/2010 - 15:56 | Portuguese | |
Poesia/Meditation | O refúgio de D. Dinis | 1 | 2.149 | 03/05/2010 - 13:08 | Portuguese | |
Poesia/Love | A dança dos amantes | 1 | 1.965 | 03/05/2010 - 03:05 | Portuguese |
Comments
Re: Morro de mim
Muito lindo! Viajei nos versos da sua poesia... Parabéns!
Re: Morro de mim
Morrer em si próprio, nada lhe passa pela mente nesta hora pois lembranças não tens, mas a vida flui em teu poema quando dizes que no "No voo pago a minha divida", então pensamentos tivestes, pois tinhas dividas a pagar.Um lindo poema, sobre a morte, com a nítida presença de vida.Parabens :-o
Re: Morro de mim
"No último sopro que me resta
Sussurro ao meu capataz
Não te devo este fim…é meu somente"
Gostei.
Abraço
Re: Morro de mim
Há que se morrer para viver!
Debulhar-se ao sol sobre o convés
Dobrar-se aos ventos do norte
Romper as barras das marés
Navegar pra viver na morte!...
Re: Morro de mim
Olá Jopman :-)
Leio-te suspensa até ao ultimo verso, tua poesia é sempre uma viagem sem destino, que nos leva mais além , por mares nunca navegados...
' A brisa faz-se vendaval
E o corpo cambaleia ao seu sabor
No porte da primeira lágrima'
simplesmente belo
beijo
Re: Morro de mim
Pois nada tinha para ver
Espero agora viver na morte
GOSTO MUITO DESTE PEMA JOÃO
BJO 8-)
Re: Morro de mim
A vida se sobrepõe em cada palavra desse poema.
Cumprimentos. :-)
Re: Morro de mim
Espero que se aplique aqui "o poeta é um fingidor",
pois quase me fazes acreditar que se trata de uma
carta antecedendo um suicidio!!!
Mas se é um desabafo para viver uma nova vida após
essa morte, está espetacular o teu poema!!!
Muito bom!!!
:-)
Re: Morro de mim
“Questiono quão remoto morro de mim”
Do teu poema bebi a vida expressa em cada frase
Parabéns
Bjs
IC
Re: Morro de mim P/jopeman
Vives... na esperança dos teus sublimes versos!
Abraço