Adeus? Porquê?

Nunca tive jeito para despedidas,
nunca soube utilizar as palavras certas,
dosear as medidas do abraço
ou o caudal das lágrimas...
Ás vezes, confesso,
nem consigo chorar...
Porque preciso da dor comigo,
numa estranha companhia...
Fujo com o olhar,
para o chão, para a parede, para o horizonte,
onde não se encontre com o teu...
Enquanto partes
e me partes aos bocados...
Distraio,
ou abstraio,
a mente
com coisas fúteis e inúteis
e mascaro a minha sensibilidade
com papeis sintéticos de rebuçados...
Tento imitar as pessoas frias,
q não sentem,
ou mentem
porque têm a flor da pele
mais na raiz...
E guardo pedaços de ti para rever mais tarde,
quando acordar em carne o osso
e perceber q a claquete vincou o tempo
q me permitia fazer de conta...
Lambo-te nas memorias e colo-te
na ponta dos meus dedos
como selos...
Tento memorizar cada palavra
no timbre certo,
cada gargalhada,
cada gesto...
Visto-me de carinhos q nunca me soubeste dar,
ou não pudeste...
Visto-me de ti e dispo-me,
porque estas ali,
enquanto a memoria me permitir,
nos meus braços,
q são os nossos...
Porque nos temos de despedir?
Porque deixamos partir,
as pessoas q nos permitem ser pessoas?

Inês Dunas
Libris Scripta Est

Submited by

Saturday, May 15, 2010 - 00:21

Poesia :

No votes yet

Librisscriptaest

Librisscriptaest's picture
Offline
Title: Moderador Prosa
Last seen: 10 years 50 weeks ago
Joined: 12/09/2009
Posts:
Points: 2710

Comments

LilaMarques's picture

Re: Adeus? Porquê?

Libris, querida,

Triste como as despedidas este teu poema...também não queria nunca despedir-me dos meus afetos, é tão triste!
"Visto-me de ti e dispo-me,
porque estas ali,
enquanto a memoria me permitir,
nos meus braços,
q são os nossos..."
Amiga, como dói!
Lembrou-me um poema que fiz, para um momento de mudança de ciclo em que digo:

"ABRE O LAÇO...

Deixa que os ciclos se vão...
Apaga a chama fraca que ilumina a vela
E acende outra
As lágrimas de parafina cessarão logo,
E congelarão no toco apagado.
E as tuas, aguadas e salgadas,
Evaporarão por entre sentimentos entristecidos.
Deixa que se iniciem outros ciclos
Mesmo que o começo
Ainda sustente o gosto
Da lágrima do fim,
É mesmo assim.
Sem sorrisos, sem abraços,
Sem o que comemorar.
Deixa assim
Deixa que se vá..."

Triste, amiga. Por que temos de nos despedir de nossos afetos?

Um beijo grande em ti.

suave's picture

Re: Adeus? Porquê?

um ate ja... se me permites...
belo.
n.

analyra's picture

Re: Adeus? Porquê?

Eu tenho problema com deixar parti, acho que sou mais insana, eu nego, simplesmente invento uma realidade paralela onde os afetos jogam-se em um buraco negro e se materializam em outra dimensão mágica.
Que fazer, melho nunca dizer Adeus, Porque dizer Adeus?
Beijos...adoro ler-te.

Mefistus's picture

Re: Adeus? Porquê?

A suave melodia do Adeus, de um até já. de um até breve, ou de um desencontro, nos longos braços de um Morfeu, que o tempo presente e o futuro, guardarão na gaveta do passado que se foi.
Um mano a mano teu com as essências, as reminescênsias do que alguma vez podia ter sido e soube-se agora, nem sempre foi e nunca será.
O trilho que emana o perfume certo, do caminho seguro dos teus passos, em mais um poema seguro.

A essência do pensar ser e dever Fazer!

Gostei

Susan's picture

Re: Adeus? Porquê?

Libris lindo seu poema , devo confessar que não gosto também da palavra adeus e diz~e-la muito menos.
Conto nos dedos as vezes em que a pronunciei e fizeram jus ao que disse.
Hoje vejo que essa palavra é limitada , pois o mundo tornou-se e torna-se a cada dia minúsculo diante daquilo que não explicamos ou compreendemos , assim como o adeus.
Parabéns pelo poema!
Beijos
Susan

Add comment

Login to post comments

other contents of Librisscriptaest

Topic Title Replies Views Last Postsort icon Language
Poesia/Sadness Quimeras... 2 4.908 06/27/2012 - 16:00 Portuguese
Poesia/General Presa no transito numa sexta à noite... 2 2.695 04/12/2012 - 17:23 Portuguese
Poesia/Dedicated Santa Apolónia ou Campanhã... 2 1.884 04/06/2012 - 20:28 Portuguese
Prosas/Others Gotas sólidas de gaz... 0 2.126 04/05/2012 - 19:00 Portuguese
Poesia/General Salinas pluviais... 1 2.447 01/26/2012 - 15:29 Portuguese
Prosas/Others Relicário... 0 2.521 01/25/2012 - 13:23 Portuguese
Poesia/General A covardia das nuvens... 0 3.034 01/05/2012 - 20:58 Portuguese
Poesia/Dedicated Arco-Iris... 0 3.211 12/28/2011 - 19:33 Portuguese
Poesia/Love A (O) que sabe o amor? 0 2.725 12/19/2011 - 12:11 Portuguese
Poesia/General Chuva ácida... 1 2.405 12/13/2011 - 02:22 Portuguese
Poesia/General Xeque-Mate... 2 2.348 12/09/2011 - 19:32 Portuguese
Prosas/Others Maré da meia tarde... 0 2.520 12/06/2011 - 01:13 Portuguese
Poesia/Meditation Cair da folha... 4 3.086 12/05/2011 - 00:15 Portuguese
Poesia/Disillusion Cegueira... 0 2.649 11/30/2011 - 16:31 Portuguese
Poesia/General Pedestais... 0 2.879 11/24/2011 - 18:14 Portuguese
Poesia/Dedicated A primeira Primavera... 1 2.657 11/16/2011 - 01:03 Portuguese
Poesia/General Vicissitudes... 2 3.009 11/16/2011 - 00:57 Portuguese
Poesia/General As intermitências da vida... 1 2.956 10/24/2011 - 22:09 Portuguese
Poesia/Dedicated O silêncio é de ouro... 4 2.612 10/20/2011 - 16:56 Portuguese
Poesia/General As 4 estações de Vivaldi... 4 3.426 10/11/2011 - 12:24 Portuguese
Poesia/General Contrações (In)voluntárias... 0 2.569 10/03/2011 - 19:10 Portuguese
Poesia/General Adeus o que é de Deus... 0 2.572 09/27/2011 - 08:56 Portuguese
Poesia/General Limite 2 3.048 09/22/2011 - 22:32 Portuguese
Poesia/General Quem nunca fomos... 0 3.147 09/15/2011 - 09:33 Portuguese
Poesia/General Antes da palavra... 1 3.718 09/08/2011 - 19:27 Portuguese